Pelo menos três nomes já são cogitados como possíveis
aspirantes ao Setentrião em 2018
EMANOEL REIS E GABRIEL PENHA – Da Sucursal em Macapá e da Editoria
Quem será o próximo
governador do Amapá? Mesmo a um ano das eleições, esta é uma pergunta cada vez
mais frequente em descontraídos bate-papos nos shoppings e mesas de bares de
Macapá ou em conversas de experimentados políticos amapaenses. Em dois
aspectos, todos concordam: ainda é muito cedo para exercícios de futurologia ou
formulação de qualquer prognóstico. Primeiro, pelo tempo. Em política, longo
demais. Segundo, pelo cenário controverso e incerto. Dessa forma, assinalam,
impossível formular uma resposta definitiva para esclarecimento de dúvida
assustadoramente abissal.
Em 7 de outubro de 2018, brasileiros elegem presidente, governador, senador e deputados |
Altos índices de abstenção
Mas, um cenário
tão sombrio quanto a perturbadora dúvida sobre o futuro político e econômico do
Amapá, igualmente vem assombrando os políticos de um modo geral: o crescente
número de abstenções registrado nas últimas eleições no Amapá. Em 2014, com boa
parte da população insatisfeita com a gestão do governador pessebista Camilo
Capiberibe, e sem ter outro candidato para votar, preferiu abster-se diante das
urnas. Quase 114 mil eleitores (entre 1º e 2º turnos) não compareceram às
seções eleitorais. Ainda mais assustador ocorreu em Macapá, no 2º turno das
eleições de 2016. Exatos 58,5 mil eleitores disseram um sonoro “não” aos
candidatos Clécio Luís (REDE) e Gilvam Borges (PMDB).
A este sentimento,
pesquisadores como o cientista político da Universidade de Campinas (Unicamp),
Ricardo Antunes, estão chamando de desencanto.
Cientista Político Ricardo Antunes prevê abstenção recorde nas eleições gerais de 2018 |
“Existe uma
insegurança crescente do eleitor quanto ao futuro. Os dados revelam desgaste
sem precedentes da classe política brasileira, provocado pelos repetidos
escândalos de corrupção. Isso acontece também em países da Europa, onde o
descontentamento é grande e se reflete no absenteísmo. Se no Brasil a eleição
não tivesse o voto obrigatório, é possível dizer que as abstenções nas eleições
passadas alcançariam níveis estratosféricos. Entretanto, acho que, mesmo com o
voto obrigatório, em 2018 estamos correndo o risco de ter uma abstenção
recorde”, adverte.
Ricardo Antunes
tem razão. Esse desencanto do eleitor brasileiro com os políticos de um modo
geral deve converter-se em negação ao voto em 2018. De fato, esta palavra
define bem o estado de espírito da população diante da avalanche de denúncias,
delações e prisões envolvendo renomados personagens dos setores empresarial e
político em sórdidos esquemas de corrupção, malversação, peculato e fraudes
incontáveis — pequenas e grandes — perpetradas nos subterrâneos lodosos do
Congresso Nacional e nos esgotos dos legislativos municipais e estaduais. A
corrupção é endêmica, lamenta Antunes, e atinge a todos, mesmo municípios
paupérrimos, a exemplo de Belágua, no Maranhão, a 221 quilômetros de São Luís,
um dos mais pobres do Brasil, segundo pesquisas do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística).
Efeito dominó
O cenário econômico desfavorável, os escândalos políticos e financeiros e as contramarchas da reforma política em andamento no Congresso Nacional comprometem, sobremodo, projetos eleitorais ainda em formatação. Com tantas incertezas, infelizmente estão natimortos. Esta é a opinião do sociólogo Fernando Canto, pesquisador da Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Autor de obras consagradas na literatura e na música popular, Canto alerta que qualquer previsão sobre articulações políticas ou acordos partidários é pura especulação. Ou seja, no entendimento dele, projeções conjunturais neste momento não terão nenhuma validade porque carecerão de embasamento científico. “É muito cedo. Ainda falta um longo ano. Só depois de resolvido o imbróglio do [Michel] Temer poderemos lançar os olhos na bola de cristal. Pois creio que antes das eleições haverá um efeito dominó na política nacional e nas estaduais”, prevê.
Sociólogo Fernando Canto alerta para especulações |
No entanto, é verdade que oficialmente a campanha ainda não está deflagrada, mas a corrida rumo ao Palácio do Setentrião já movimenta os bastidores da política amapaense. Alianças se formam – e se desfazem – e conversações entre grupos políticos estão a pleno vapor.
Alguns nomes já se apresentam como pré-candidatos ao Governo do Amapá. Alguns, inclusive, já trabalham há algum tempo para consolidar suas pretensas pré-candidaturas à cadeira mais importante da política tucuju. Uma coisa é certa: as próximas eleições prometem ser as mais disputadas de todos os tempos, já que a classe política está em descrédito e o eleitor demonstra profundo desencanto.
Confira a seguir:
WALDEZ GÓES
O atual governador Antônio Waldez Góes da Silva, do PDT, é pré-candidato natural à reeleição. Para isso, tem procurado melhorar a imagem de seu mandato – o terceiro, iniciado em 1º de janeiro de 2015 e reverter uma suposta rejeição, que chegaria a estratosféricos 70%. Para isso, investe pesado em comunicação, mesmo que essa postura venha sendo criticada pela oposição.
Waldez Góes discursa após ser empossado para o terceiro mandato de governador |
Outra preocupação de Waldez Góes deve ser quanto à performance de seu grupo político nas eleições municipais do ano passado. Os candidatos apoiados pelo governo estadual perderam as eleições para prefeito nos principais municípios do Estado, como Macapá, Santana, Mazagão e Laranjal do Jari. Nesse sentido, o governador tem percorrido os municípios e celebrado parcerias com os prefeitos, mesmo aqueles que não foram apoiados por ele, na estratégia de mostrar que trabalha olhando interesses coletivos e não sigla partidária.
Em Mazagão, por exemplo, recentemente assinou convênio com o prefeito Dudão Costa, do PPL, para limpeza e mobilidade urbana, fez entrega de materiais e garantiu a contrapartida do Estado para a construção da maternidade, que está sendo articulada através de emenda da deputada federal Janete Capiberibe (PSB).
Na prática, o desafio de Waldez Góes é retomar a grande aliança de partidos e lideranças que lhe garantiram a vitória contra o candidato à reeleição Camilo Capiberibe, do PSB, em 2014. Porém, em discursos e entrevistas evita o tema Eleições 2018, focando as falas nas ações de governo.
JOÃO CAPIBERIBE
Nas fileiras amapaenses do Partido Socialista Brasileiro (PSB), cogita-se que o nome mais provável para enfrentar Waldez ano que vem é o do senador João Alberto Capiberibe, que já foi governador do Amapá entre os anos de 1995 e 2002. Experimentado, Capiberibe tem sido um crítico ferrenho da atual administração estadual, nos pronunciamentos que faz no Senado Federal. Entretanto, o ex-governador Camilo Capiberibe, filho do senador, já declarou publicamente que o partido abriria mão de encabeçar chapa para apoiar uma eventual candidatura do senador Randolfe Rodrigues, da REDE, ao governo.
Senador João Capiberibe aparece como nome para tentar polarizar eleições com Waldez |
Quando governador, João Capiberibe teve como marca o Programa de Desenvolvimento Sustentável do Amapá, o PDSA. Deixou o governo em abril de 2002 para concorrer ao Senado, sendo eleito e cassado em 2005 – quem assumiu a vaga no Senado foi Gilvam Borges, do PMDB, aliado do atual governador, que foi derrotado na disputa para a Prefeitura de Macapá ano passado. Capiberibe também disputou a eleição ao governo em 2006, quando perdeu para o atual governador Waldez Góes, que naquele ano foi reeleito em primeiro turno. Voltou ao Senado em 2010.
DAVI ALCOLUMBRE
Porém, o senador Randolfe Rodrigues deixa claro que a possibilidade de uma candidatura dele ao Governo do Estado é inexistente. Faz questão de enfatizar publicamente que o apoio é para outro nome que se apresenta como pré-candidato nessa disputa: o do também senador Davi Alcolumbre, do Democratas; a tendência é que Randolfe busque a reeleição, já que seu mandato ocupa destaque em nível nacional.
Davi Alcolumbre (DEM): tendência de adotar o discurso de “chega de mais do mesmo” |
Davi já foi vereador de Macapá, deputado federal e está no Senado desde 2015, exercendo o primeiro mandato. Segundo fontes próximas ao senador, a ideia é apresentar Alcolumbre como uma “nova opção”, uma terceira via aos grupos políticos de Waldez Góes e João Capiberibe, que se revezam governando o Amapá há mais de 20 anos, desde o fim da era Aníbal Barcellos, em 1994.
Porém, a postura política de Davi estaria sendo colocada em xeque por ações de seu mandato como senador. Vale lembrar que Davi votou contra as denúncias que envolvem o presidente Michel Temer (PMDB), além de apoiar propostas espinhosas do governo federal, como a Reforma da Previdência.
Enquanto os nomes não se definem – as convenções partidárias devem ocorrer até abril de 2018 – a população ainda tenta apostar que a melhoria está nas urnas. O estado do Amapá atualmente acompanha a crise econômica nacional, com altos índices de desemprego, violência atingindo patamares assustadores e uma economia ainda baseada no contracheque.
parabéns pela matéria Gabriel
ResponderExcluir